«Como é que identificações atribuladas são aparências nas práticas culturais? Bem, considerem como a heterossexualidade se naturaliza através da instalação de certas ilusões de continuidade entre sexo, género e desejo. Quando Aretha Franklin canta "You make me feel like a natural woman" parece, à primeira vista, sugerir que algum do potencial natural do seu sexo biológico é realizado através da sua participação na posição cultural de "mulher" enquanto objecto de reconhecimento heterossexual. Alguma coisa no seu "sexo" é expressa pelo seu "género" que é, em consequência, totalmente conhecido e consagrado dentro do espaço heterossexual. Não há qualquer ruptura, qualquer descontinuidade entre "sexo", enquanto facto biológico, e essência, ou entre género e sexualidade. Apesar de Aretha parecer estar completamente satisfeita com ter a sua naturalidade confirmada, também parece total e paradoxalmente consciente de que essa confirmação não está garantida, que o efeito da naturalidade é apenas atingido naquele momento do reconhecimento heterossexual. Apesar de tudo, ela canta "You make me feel LIKE a natural woman", sugerindo que é uma espécie de substituição metafórica, um acto de fingimento, um tipo de participação sublime e momentânea numa ilusão ontológica produzida pela operação mundana de transvestismo heterossexual.»
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