sexta-feira, 29 de maio de 2015

que las hay las hay




"(...) a história da ciência demonstra que nunca houve uma simples definição do sexo ou mesmo uma simples maneira de estabelecer as diferenças entre os sexos. Isso foi contestado durante muito tempo. Não significa que não existam diferenças materiais que podemos encontrar, mas há sempre excepções, especialmente quando se trata de indivíduos intersexuais. E há continuidades interessantes ao nível das hormonas e dos genes. Talvez devêssemos então aceitar a variação e a complexidade sexual dos humanos. Quando nos referimos a uma diferença material entre os sexos, recorremos a um antigo esquema conceptual de modo a nos entendermos sobre o que dizemos. Temos de ter em conta o facto de que há muitas maneiras diferentes de estabelecer o sexo, o que significa que nenhuma definição goza de uma hegemonia cultural. E isto não significa que o sexo não existe. Há sexo! Mas se formos convidados a dizer o que queremos dizer, temos de optar por uma visão ou outra, e há muitas."

Butler em entrevista ao Ípsilon. É vê-la dia 2 de Junho, no Teatro Maria Matos.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Bollos - comer o insulto



Se a palavra para insultar lésbicas em castelhano fosse "mierda", teríamos um problema. Mas com "bollos", como "bolacha" no Brasil, a estratégia de reapropriação narrativa, performativa e corpórea não só é radical como completamente saborosa. Como os efeitos da narrativa de abjecção do outro não ficam sob controlo de quem profere o insulto, "bollo" abre as portas para ver surgir o "sujeito imprevisto": a outra toma a palavra e come-a bem comidinha. Foi bom ouvir a dupla CABELLO/CARCELLER no ciclo Gender Trouble.

https://vimeo.com/19736325

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Cinema no Rotas & Rituais

Guerrilla Grannies - How to live in this world

Ike Bertels



Documentário, Holanda, 2012, 80’
Legendas: Português e Inglês; M/12
Guer­ri­lha Gran­nies conta-nos a his­tó­ria de três mulhe­res guer­ri­lhei­ras que, ao luta­rem com o Des­ta­ca­mento de Mulhe­res do Exér­cito de Liber­ta­ção da FRELIMO, não só aju­da­ram a liber­tar o país do colo­ni­a­lismo por­tu­guês, como tam­bém, abri­ram cami­nho à eman­ci­pa­ção das mulhe­res moçambicanas.
Ike Ber­tels mostra-nos três momen­tos impor­tan­tes da vida de Mónica, Amé­lia e Maria, per­mi­tindo um olhar único sobre o desen­vol­vi­mento des­tas mulhe­res, que pare­ciam estar des­ti­na­das a tra­ba­lhar a terra e a ter filhos. Estas his­tó­rias de vida, que acon­te­cem num país que se rein­venta, mos­tram como os ide­ais revo­lu­ci­o­ná­rios – neste caso, a igual­dada entre homens e mulhe­res e a pos­si­bi­li­dade de acesso à edu­ca­ção – podem tornar-se reais quando as pes­soas – mulhe­res – estão dis­pos­tas a lutar pelas suas vidas.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Maria Capacho

Não tem sido fácil pegar nas questões que levanta um projecto como é o site da Rita Ferro dedicado às mulheres. Porque se por um lado parte do pressuposto de que há um problema preemente nas questões da igualdade de género, com o qual é fácil concordar, e se dá voz a alguns textos interessantes, por outro lado, através da vivificação de uma ideia de mulher encosta-nos de novo ao sítio de onde queremos e precisamos de sair. Basta tão somente abrir a página e eis que a pub a dar as boas vindas são papas nestlé para o bebé e imagens de mulheres esbeltas e uniformes vestidas e despidas pela H&M (a mesma que explora milhares de mulheres noutras latitudes). Os produtos que escolheram este site para fazer a sua publicidade encontram no projecto emancipador da condição feminina uma aceitação que confirma de forma imediata os papéis de mãe e de boneca para vestir a que a cultura dominante procura encostar, irredutivelmente, a categoria mulher. Ou seja, longe de questionar estes papéis, recusando, por exemplo, uma publicidade tão óbvia e evidente, o site inscreve-se numa lógica não muito diferente desta escolha como podemos descobrir pesquisando um pouco no conteúdo propriamente dito. 



Num artigo sobre uma design que inventou estas t-shirts descobrimos que foram feitas a pensar em libertar a mulher da categoria violenta de bitch e transformar a categoria nas coisas que todas gostaríamos de ser. Mas são as mulheres que querem ser belas, inteligentes, talentosas, charmosas e hot mesmo que em dias alternados? Ou são os seres-humanos em geral e em particular alguns com mais insistência? Que acto provocador ou emancipatório existe em insistir que é a mulher que quer ou se pretende bela? Que charme existe em alguém que longe de contestar as categorias que a enunciam antes dela existir procura encaixar-se e conformar-se a isso tudo?

domingo, 3 de maio de 2015

Lucy Parsons e o 1º de Maio

Lucy não é só o nome de um dos filmes barrete de 2014, Lucy Parsons esteve ligada aos acontecimentos que em Chicago no ano de 1886 deram origem às celebrações em todo o mundo do Dia do Trabalhador.