domingo, 16 de novembro de 2014

Nem na hora da morte a representação do corpo da mulher é dispensada.


Trabalhar numa agência funerária não deve ser um emprego fácil. Saber representar é um requisito. Para além de actor os empregados dessas agências têm de possuir competências semelhantes à dos psicológicos... e ainda aquele “espiritozinho” de comerciante perspicaz. Isto porque receber pessoas que acabam de perder um ente querido pode resvalar facilmente para uma situação incontrolável. O empregado da agência tem de se mostrar rapidamente sensível às variações emocionais e empático com a tristeza alheia, ao mesmo tempo que tem de tirar o máximo proveito financeiro, jogando com os sentimentos do cliente inconsolado que tem à sua frente. Imagino que o argumento sobre a dignidade na hora da morte deve primar quando se vende a opção x ou y de cerimonia, caixão, tratamento do corpo, etc, etc. Fragilizado, o cliente pode dar tudo o que tem para dignificar a vida daquele que já não vive. 
Dito isto, há empresas de construção de caixões, cuja versão clássica da dignidade do adeus já era. Diz assim o Sr Lindner patrão da fábrica de caixões de marca Lindner: “um caixão não é um objeto sagrado ou um símbolo religioso, é um pouco como um móvel. É a ultima cama na qual dormirá para sempre”. Este gajo é sem duvida um génio, vende caixões como se vendesse carros. Why not? Este tipo de abordagem não me parece errónea, não fosse o Sr. Lindner um taradinho adepto do marketing através de corpos nus de mulheres (sob a forma de um calendário). Não fosse também a genialidade do Sr. Lindner uma banalidade comercial.
Ou seja, aquilo que poderia ser um bom marketing funerário, uma vez que foge aos imperativos culturais nos quais o luto da nossa sociedade se encontra embrenhado, acaba por banalizar e profanar o corpo morto na sua “ultima cama” (para citar o Sr. Lindner). Isto porque mesmo na hora do “fim” divulga (os já tão conhecidos) clichés sexistas, nos quais as mulheres são as grandes vitimas por vezes fatalmente. Mas o que é certo é que o banal marketing de venda do Sr Lindner tem frutos. Pois é, se perguntasse agora ao leitor deste texto qual seria a marca de caixão se tivesse de escolher rapidamente um caixão? Penso que "Lindner" seria a resposta, uma vez que para além de desconhecermos outras marcas, por este não ser um produto de consumo quotidiano, a utilização imagética dos corpos delgaditos femininos foi e é uma fonte de recursos, não fosse a “coisificação” da mulher a trivialidade da nossa sociedade até na hora do adeus.

Ver aqui o focinho do Sr. Lindner com um sorrisinho asqueroso de ressabiado e ver o dito calendário. Depois disso, esqueçam este post para que o Sr Lindner não seja o ultimo ser humano a acompanhar-vos na morte.

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