Trabalhar numa
agência funerária não deve ser um emprego fácil. Saber representar é um requisito. Para além de
actor os empregados dessas agências têm de possuir competências semelhantes
à dos psicológicos... e ainda aquele “espiritozinho” de comerciante perspicaz. Isto porque receber pessoas que acabam de perder um ente querido pode resvalar
facilmente para uma situação incontrolável. O empregado da agência tem de se
mostrar rapidamente sensível às variações emocionais e empático com a tristeza
alheia, ao mesmo tempo que tem de tirar o máximo proveito financeiro, jogando
com os sentimentos do cliente inconsolado que tem à sua frente. Imagino que o
argumento sobre a dignidade na hora da morte deve primar quando se vende a
opção x ou y de cerimonia, caixão, tratamento do corpo, etc, etc. Fragilizado, o cliente pode dar tudo o que tem para dignificar a vida daquele que já não vive.
Dito isto,
há empresas de construção de caixões, cuja versão clássica da dignidade do
adeus já era. Diz assim o Sr Lindner patrão da fábrica de caixões de marca
Lindner: “um caixão não é um objeto sagrado ou um símbolo religioso, é um pouco
como um móvel. É a ultima cama na qual dormirá para sempre”. Este gajo é sem
duvida um génio, vende caixões como se vendesse carros. Why not? Este tipo de
abordagem não me parece errónea, não fosse o Sr. Lindner
um taradinho adepto do marketing através de corpos nus de mulheres (sob a forma
de um calendário). Não fosse também a genialidade do Sr. Lindner uma banalidade
comercial.
Ou seja, aquilo que poderia ser um bom marketing
funerário, uma vez que foge aos imperativos culturais nos quais o luto da nossa
sociedade se encontra embrenhado, acaba por banalizar e profanar o corpo morto
na sua “ultima cama” (para citar o Sr. Lindner). Isto porque mesmo na hora do
“fim” divulga (os já tão conhecidos) clichés sexistas, nos quais as mulheres
são as grandes vitimas por vezes fatalmente. Mas o que é certo é que o banal marketing de venda do
Sr Lindner tem frutos. Pois é, se perguntasse agora ao leitor deste texto qual
seria a marca de caixão se tivesse de escolher rapidamente um caixão? Penso que "Lindner" seria a resposta, uma vez que para além de desconhecermos outras marcas, por este não ser um produto de consumo quotidiano, a utilização imagética dos corpos
delgaditos femininos foi e é uma fonte de recursos, não fosse a “coisificação”
da mulher a trivialidade da nossa sociedade até na hora do adeus.
Ver aqui o focinho do Sr. Lindner com um sorrisinho asqueroso de ressabiado e ver o dito calendário. Depois disso,
esqueçam este post para que o Sr Lindner não seja o ultimo ser humano a acompanhar-vos na morte.
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