segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

"Era uma santa vida!", confessam as esposas dos militares



É imprescindível a interpretação da Guerra como fenómeno não exclusivamente masculino, para tal é preciso retirar as mulheres da invisibilidade no espaço de opinião. Saber como esta operou na vida privada de tantas recém-casadas, ansiosas e solidárias com a situação dos maridos, atentas a outras realidades de uma experiência traumática que, ainda assim, conseguiu trazer-lhes boas recordações. São esposas de militares de carreira e oficiais, que seguiam as «Cartas de Chamada» em longas travessias de barco até chegarem a essas Áfricas onde lhes esperava o papel de apoiantes, ombro de consolo à desmoralização que se abatia nos homens em missão. Transparece uma certa ingenuidade que atravessa «uma geração que, sem saber porquê, sem questionar, ia», pois vivia-se um tempo de engano, em que as províncias ultramarinas eram Portugal e o patriotismo «um sentimento, que não se explicava nem se justificava».
Em África no Feminino, Margarida Calafate Ribeiro inspirou-se na análise de Benjamim Stora sobre o impacto da guerra na Argélia na sociedade francesa, no intuito de se considerar a guerra colonial um assunto interno a Portugal e aos países africanos. Neste sentido, o livro contribui para encurtar o divórcio entre a dimensão privada e colectiva da memória, já existente «nos tempos da Guerra, entre o discurso público sobre uma guerra silenciada e que oficialmente não existia e o conhecimento privado que dela tinham os portugueses mobilizados e as suas famílias». Se antes do 25 de Abril se fingia que não existia guerra, depois cedeu-se à perplexidade, absurdo e  incapacidade de falar sobre tal. «São coisas de que não se pode falar. Viveram-se na altura e depois não se fala. Por pudor, por horror».
É portanto no registo de revisitação, procura de sentido para aquele período de vida e enquanto apanhado da variedade de perspectivas, que estes relatos colaboram na análise psicossociológica de uma das fases mais sombrias do tempo colonial. Porque partiam, voluntariosas, estas mulheres para o desconhecido? A motivação era generosa: coragem, amor e dedicação. Não é comum acompanhar maridos para cenários de guerra, mas o regime incentivava essas idas deixando e apoiando a permanência das mulheres em territórios ultramarinos, porém, entendido publicamente como razões, vontades privadas. No entanto, as esposas exerciam um papel, eram um complemento às tarefas de apoio do Movimento Nacional Feminino, da Cruz Vermelha, à propaganda que impelia as mães a «sacrificar os seus filhos pela Nação». Assim, a presença da mulher em África foi uma arma política muitíssimo útil: «não deviam mover-se, nem pensar, nem agir», mas «ser a mãe, a irmã, a distração amorosa, a imagem feminina, boa, a pura gota de água, a imagem também da casa perdida, do país perdido, da família perdida».

Continuar a ler sobre as acompanhantes dos militares.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Cenas de hoje - telegraficamente mas com hipertexto

No mesmo meio de comunicação social (vá, chamemos-lhe assim, para facilitar...) que parece ser um manancial de disparates - como este, já seminal, e este - surge um texto sobre feminismos que é mais sério e que, porque tento não acompanhar mananciais de disparates, só li hoje e recomendo.

Também soube hoje que, na próxima semana, haverá uma conferência sobre a convenção de Istambul e o direito penal. Apesar de todas as reservas que se me pode levantar um possível entendimento de que a violência de género se resolve no foro disciplinar e penal, estou particularmente interessada em perceber "cenas" como a questão do consentimento na violência sexual (artigo 36º da convenção) e indemnizações (artigo 30º da convenção) - falando apenas de alguns dos casos mais mediáticos e recentes - que é para saber se vou continuar a sentir vergonha da humanidade perante acórdãos como este ou este.

Por fim, Butler sobre Wittig e sobre explicações potenciais acerca de colagens, que reli esta manhã:

«Hence, for Wittig, we might say, one is not born a woman, one becomes one; but further, one is not born female, one becomes female; but even more radically, one can, if one chooses, become neither female nor male, woman nor man. (...) Wittig argues that the linguistic discrimination of "sex" secures the political and cultural operation of compulsory heterosexuality. This relation of heterosexuality, she argues, is neither reciprocal nor binary in the usual sense; "sex" is always already female, and there is only one sex, the feminine. To be male is not to be "sexed;" to be "sexed" is always a way of becoming particular and relative, and males within this system participate in the form of the universal person. For Wittig, then, the "female sex" does not imply some other sex, as in a "male sex;" the "female sex" implies only itself, enmeshed, as it were, in sex, trapped in what Beauvoir called the circle of immanence.»
 

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Viva as mulheres do norte, matriarcas macuas, e mulheres do sul como a Chiziane que, não só tenta, como existe

"Os homens não estão preparados. Uma mulher macua, quando não está satisfeita na cama, ela reage. E a comunidade à volta dá-lhe razão porque ela tem direito ao amor e ao sexo. Toda esta gente do patriarcado não entende isto. Essa para mim foi a marca mais forte. O desejo mais profundo de uma mulher do matriarcado é respeitado, por exemplo quando ela diz: “Eu gosto de ti, eu quero casar contigo.” A mulher vai à guerra, vai buscar um homem, enquanto que no patriarcado a mulher tem de esperar que apareça um qualquer.
Eu sou do Sul. A educação que tive aqui é esta: uma mulher não pode dizer o que pensa ou o que sente, tem de obedecer a tudo o que o homem faz. As macuas não. Elas existem, elas reivindicam. Deve ser esta questão que o queniano sentiu.(...)"

Ler entrevista à escritora moçambicana Pauline Chiziane.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Oh, pá, eu que já sonhava com esse mundo maravilhoso em que as vaginas não cheiram a cona...



Foi tudo uma grande confusão... Um erro de marketing de sócios minoritários que andaram por aí a prometer vaginas com cheiro a pêssego e sabor a Coca-Cola diet. Afinal, Sweet Peach é só um probiótico para melhorar a flora vaginal, uma espécie de iogurte Activia mas para conas, mas uns "silicon valley start-up dudes" acharam que esta era a oportunidade de entrarem nesse incrível mercado de produtos que veiculam a ideia de que as mulheres, se quiserem e consumirem tal-e-quê, podem ser menos nojentas.

domingo, 23 de novembro de 2014

Próximo retiro: Escandinávia


Primeiro museu feminista do mundo inaugurado na Suécia


Diz a directora, Maria Perstedt: "Queremos explorar diversas perspectivas: em larga escala, tratando as relações entre os sexos e o poder; e numa escala individual, dando protagonismo aos objetos e às narrativas" e, ainda, que tentam "descrever e provocar ideias, normas e estruturas que limitam, hoje, as escolhas e as possibilidades de mulheres e homens".

sábado, 22 de novembro de 2014

Masturbação feminina, eis a questão…


Resposta à questão "quem se masturba?". Ver a tira completa aqui: http://projetcrocodiles.tumblr.com/

Sentir-se, procurar-se, satisfazer-se, conhecer-se, revoltar-se, apropriar-se, divertir-se, energizar-se, imaginar-se, erotizar-se... a masturbação é um acto que permite a fuga dos verbos reflexivos. Que não se reserve essa pérola de prazer apenas aos homens. Maturbemo-nos. 
Para as francófilas, bom documentário este que aqui deixo.