Um dos problemas da questão palestiniana é a difícil
descrição de como a força ocupante, ou seja o Estado sionista, age no terreno.
Com os acontecimentos das últimas semanas, principalmente em Gaza, algumas
pistas foram evidenciadas pelos média. Alguns artigos e reportagens, mesmo que
esse não fosse o objetivo primeiro, mostraram como perto de 2 milhões de
palestinianos sobrevivem numa pequena faixa hermeticamente fechada por mar,
terra e ar. Embora diferente, a “modalidade” de ocupação na Cisjordânia é igualmente
opressiva. Diferente de Gaza (“sem” presença interna israelita), a Cisjordânia
está longe de representar o que os mapas nos mostram. A superfície que
visualizamos nos mapas não equivale à superfície à qual os palestinianos
deveriam ter acesso segundo as tão famosas fronteiras de 1967. As várias
cidades da Cisjordânia são cercadas por check points israelitas.
Fundamentalistas sionistas ocupam ilegalmente este território. O Governo
israelita compactua com a construção destas colónias e não só cria estradas
exclusivas para os seus moradores como dá autorizações para porte de armas.
Todos os dias colonos matam aleatoriamente palestinianos, sem que os primeiros
sejam julgados. O exemplo do mar morto é interessante para compreender o
traçado da Cisjordânia. Se olharmos para um mapa veremos que uma parte desse
mar encontra-se situado no interior daquilo que é chamado Cisjordânia, no
entanto, as estradas que conduzem a esse lugar de lazer são proibidas aos
palestinianos. Ou seja, embora a distância do mar morto possa ser de 15 minutos
para alguns, esses alguns não podem usufruir dele.
O que se passa hoje com Khalida Jarrar torna transparente os
contornos da ocupação israelita na Cisjordânia. Parlamentar, dirigente do
FPLP, militante feminista (e durante vários anos advogada de prisioneiros
políticos), Khalida Jarrar tem sido vítima de uma perseguição sem precedentes.
Em 2010, por exemplo, Israel recusou a Khalida Jarrar um visto para fins
medicais na Jordânia (ou seja, para os mais desatentos, ninguém sai dos territórios palestinianos sem a autorização de Israel). No dia 20 de Agosto de 2014 a casa de Khalida Jarrar em Ramallah
foi invadida por cerca de 50 soldados israelitas, trazendo com eles uma ordem de expulsão. Uma pressão judicial do ocupante é exercida sobre ela para que saia de Ramallah e se instale em Jerico (desde os
anos 80 que não se via tal "transferência" na Palestina ocupada). Esta ordem de
expulsão interna é reveladora do carácter Kafkiano da ocupação israelita, mas
ela esconde sem duvida um sentido lógico de expansão colonial. Para além das grandes cidades da
Cisjordânia serem cercadas de check points, o exército israelita, como mostra
bem esta ordenação, pode penetrar as cidades… Israel pode expulsar uma pessoa
de Ramallah para Jericó, “porque sim”, controlando a sua mobilidade entre
cidades com o estatuto de zona A. Este é mais um detalhe que
vem dificultar a descrição da ocupação no território da Cisjordânia, uma vez
que existem diferentes estatutos segundo a cidade em questão. Ramallah e Jericó
fazem parte da zona A, cuja segurança e administração deveriam ser
exclusivamente reservadas à autoridade palestiniana. Se na zona A, que
corresponde apenas a cerca de 20% do território da Cisjordânia (e 50% da população),
Israel atua sem rei nem roque, imagine-se no resto do território. O mandato de
expulsão interna a que Khalida Jarrar foi sujeita, para além de mostrar a
natureza da ocupação israelita, elucida a estratégia da força ocupante em
silenciar as vozes mais progressistas da sociedade palestiniana. O tribunal
militar israelita não justificou a “sentença” de deportação, apenas fez alusão a razões de “intelligence information”, o
que reitera a ideia de estratégia política israelita visando personagens chave
da resistência à ocupação. Claro que a força de intervenção de Khalida Jarrar
em Jericó não será a mesma que em Ramallah, justificando-se assim a « deportação ».
Khalida Jarrar recusou assinar a ordem de
expulsão, respondendo: “you, the occupation, are killing our Palestinian people. You
practice mass arests, demolish homes, kidnap people from their homes and deport
them. It is you who must leave our home.” As razoes coloniais da expulsão da sua residência em Ramallah encontram-se
na sua declaração : Israel tem medo da resistência que luta pela
libertação e justiça na Palestina. Khalida Jarrar faz parte dessa
resistência. Apoie-se aqui a sua tomada de decisão em recusar a submissão ao projeto sionista.
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