domingo, 10 de janeiro de 2016

Sobre as agressões em Colónia e sobre alguns argumentos contra a nova lei do assédio verbal

Lo específico de este caso es que ha puesto el foco en el origen supuesto de los agresores. Norteafricanos. Extranjeros. Incluso hay medios que apuntan a que eran refugiados, así, directamente. Bajemos las copas, pues, porque el acento puesto en esa particularidad es extremadamente preocupante. Y es una trampa. Europa no se ha vuelto feminista con el Año Nuevo, sino que sigue siendo tan racista como siempre. Porque lo que tienen en común las agresiones sexuales en espacios de fiesta, todas, las que suceden en Colonia, en Cairo o en Barcelona, no es el origen o el color de los agresores, sino la construcción que les permite pensar a estos hombres que la agresión puede formar parte de su sexualidad. Los agresores no son blancos o negros, cristianos o musulmanes: son hombres construidos en la masculinidad hegemónica. Sin más. Ni menos.
Lo específico de este caso es que ha puesto el foco en el origen supuesto de los agresores. Norteafricanos. Extranjeros. Incluso hay medios que apuntan a que eran refugiados, así, directamente. Bajemos las copas,
pues, porque el acento puesto en esa particularidad es extremadamente preocupante. Y es una trampa. Europa no se ha vuelto feminista con el Año Nuevo, sino que sigue siendo tan racista como siempre. Porque lo que tienen en común las agresiones sexuales en espacios de fiesta, todas, las que suceden en Colonia, en Cairo o en Barcelona, no es el origen o el color de los agresores, sino la construcción que les permite pensar a estos hombres que la agresión puede formar parte de su sexualidad. Los agresores no son blancos negros, cristianos o musulmanes: son hombres construidos en la masculinidad hegemónica. Sin más. Ni menos
(...)
 El racismo y la xenofobia que quiere encender la caverna apunta y criminaliza a toda una franja de población, también mujeres, hombres homosexuales, personas trans y de hombres que reniegan de esas construcciones hegemónicas, un sinfín de identidades que son nuestras aliadas, y que sufren en su día a día la violencia de la masculinidad guerrera, de la masculinidad violenta, del macho conquistador. Desviar la atención de las agresiones sexuales hacia el color, el origen, la clase o la religión del agresor solo hace obviar la cruda realidad: que las agresiones sexuales son sistémicas, y es el sistema el que hay que cambiar. Por entero. Y eso a la caverna ya no le hace tanta gracia. Racismo y género Tan inútil será el feminismo que no atienda a opresión de raza, como una lucha antirracista que no atienda al género. Precisamente porque se está utilizando el género para alimentar el racismo, y el racismo para alimentar el machismo más casposo. Porque son parte del mismo desastre, necesitamos alianzas urgentes para parar esto con todos los brazos, todos los gritos y todos los cuerpos posibles. Para que denunciar las violaciones no se utilice para construir racismo, para que podamos denunciar siempre, para que siempre salga en los periódicos, para que siempre los alcaldes y las alcaldesas tomen medidas de urgencia. Para que esas medidas apunten a donde tienen que apuntar: ni la clase, ni la raza, ni el origen. Sino a la construcción de la masculinidad guerrera, conquistadora y violadora".

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A menina dança?

Para não dizerem ou alguém se enganar a pensar que o machismo é coisa de homens chega-nos este contributo, também em forma de relambórias gargalhadas. Maria João Avillez, que verve! Não lia tanto adjetivo junto desde os exercícios da 4ª classe. 

"Como não sou o televisivo Porto Canal não peço desculpa. É exatamente isto que penso e quero dizer: azougadas raparigas" Um pouco mais acima diz "azougadas raparigas com prazo de validade". Ou seja, num texto que é um mimo e um conforto para quem quer que esta gente desimpeça o caminho, consegue designar os seus adversários políticos como "as raparigas". Até podia referir-se ao recalcitrante pcp e às mulheres do Bloco, uma vez que é bem visível e um facto novo um partido no nosso país ser liderado e representado publicamente por mulheres, falar por isso nas mulheres do Bloco podia ser não um sinal negativo. Mas Avillez, do fundo da sua reacionária vivência como mulher, chama-lhes as raparigas. Procurando diminuir assim politicamente uma adversária com um argumento que não diz mais do que a ideia que tem de si própria. Tem mais graça o Grouxo quando diz "eu não aceitaria pertencer a um clube que me aceitasse como membro". Ainda assim espero que Avillez não tenha prazo de validade porque quem nos contaria depois das unhas sujas do Helmut  Schmidt?
  

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Do arrojado machismo

O Bloco de Esquerda não devia exigir desculpas ao senhor que no Porto Canal nos fez soltar francas gargalhadas, vindas daquele sítio onde personagens como Diácono Remédios as arrancavam deliciosamente.
O mestre humorista sabe que nos rimos das caricaturas, de algo parecido com o que existe na realidade mas com alguns traços exagerados. Todos conhecemos Diáconos Remédios mais ou menos simpáticos mas a sua personagem concentra exageradamente as características que nos permitem agrupar num só os vários tipos de falsos e pidescos moralistas. A caricatura permite assim tornar visível ou destacar o que poderia dissimular-se nas práticas e vivências quotidianas dos pequenos ou grandes diáconos remédios com que vamos lidando ao longo da vida.
Pedro Arroja, na sua intervenção televisiva sobre as deputadas do BE, faz soltar uma gargalhada porque todo o discurso encarna a caricatura do machismo presente na nossa sociedade. E ninguém está à espera que uma pessoa de verdade se transforme numa caricatura, apesar dos tempos particulares que vivemos nos surpreenderem com grandes, e quiça dramáticas manifestações nesta área. Pedro Arroja não é um sucedâneo, é um objeto pedagógico que nos chega de forma livre e genuína. 
O BE, por isto, devia agradecer esta intervenção. Podemos andar a discutir o assédio (com debates sobre o piropo), a lutar contra grupos de direita que, à sorrelfa, fazem passar uma lei sobre aconselhamento obrigatório à mulher que pretenda interromper a gravidez, podemos alertar para as centenas de comentários misóginos e violentos sobre uma ação de denúncia numa barbearia, mas nada é tão claro e transparente para compreender o que é isso do machismo como um discurso com este gabarito.
Devia defender-se, desde já, a inclusão nos curricula escolares o visionamento deste discurso quando se ensinam as discriminações presentes no passado e presente, nas aulas em que se discute cidadania, racismo, machismo, homofobia. Perante os compromissos internacionais que o país estabeleceu, se não fosse por nós próprios, é uma obrigação fazê-lo. Estamos obrigados, como a pagar a dívida, nos Tratados Europeus que subscrevemos, a defender e a promover políticas ativas de combate à desigualdade, a económica, social, e de todas, em especial, a desigualdade entre homens e mulheres.

domingo, 1 de novembro de 2015

"Sacrifica-a antes pela próstata, homem!" ou como uma ideia de masculinidade mata homens cisgénero (para além de mulheres, gays, queer, trans) e como os babeiros misóginos-totós tentam obter uma aura de responsabilidade social quando são só merda


Aí está "Movember": uma campanha de alerta para o cancro da próstata e dos testículos iniciada por uma ONG que é, actualmente, uma campeã de recolha de donativos.

"Movember" é uma espécie de resposta ao "Pinktober", mês dedicado à luta contra o cancro da mama. Haveria logo aqui pano para mangas mas, em última análise, qualquer campanha mensal de luta contra qualquer cancro é uma coisa que pode sempre ter óptimos resultados por mais pano para mangas que haja nas suas motivações. O que me interessa trazer aqui à discussão é que o cerne de "Movember" é uma ideia de masculinidade que se manifesta em toda a sua perversão: a campanha recorre à ostensão de bigodes como expressão testosterónica simbolicamente compensatória do toque rectal, o meio de diagnóstico primário precoce do cancro da próstata. E eu não preciso de me alongar muito nisto, penso, porque a ideia machista "masculino-penetrador-nunca-penetrado" é um jogo que eu não inventei e que não jogo. Não deixa de ser irónico, portanto, que a estratégia de quem pretende chamar a atenção para o flagelo que é um cancro da próstata, sendo qualquer cancro um flagelo, passe não por afirmar taxativamente que a ideia de masculinidade está a matar homens cisgénero, mas por passear uma das causas do problema com orgulho.

Quanto às relações entre "Movember" e racismo, sexismo, misoginia, homofobia, transfobia sugiro a leitura deste artigo e deste.

Por fim, porque estas coisas reverberam sempre em forma de paródia em território nacional, informo que ontem apanhei num telejornal uma "notícia" sobre a adesão da barbearia Figaro's à campanha, retratando os barbeiros-misóginos como um exemplo de responsabilidade social. Foda-se, é só rir.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

The Logic of Gender On the separation of spheres and the process of abjection

Sex is the flip side of gender. Following Judith Butler, we criticise the gender/sex binary as found in feminist literature before the 1990s. Butler demonstrates, correctly, that both sex and gender are socially constituted and furthermore, that it is the “socializing” or pairing of “gender” with culture, that has relegated sex to the “natural” pole of the binary nature/culture. We argue similarly that they are binary social categories which simultaneously de-naturalise gender while naturalising sex. For us, sex is the naturalisation of gender’s dual projection upon bodies, aggregating biological differences into discrete naturalised semblances. 

While Butler came to this conclusion through a critique of the existentialist ontology of the body, we came to it through an analogy with another social form. Value, like gender, necessitates its other, “natural” pole (i.e. its concrete manifestation). Indeed, the dual relation between sex and gender as two sides of the same coin is analogous to the dual aspects of the commodity and the fetishism therein. As we explained above, every commodity, including labour-power, is both a use-value and an exchange-value. The relation between commodities is a social relation between things and a material relation between people


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Um adão passeando pela brisa da tarde

Nunca te amigues numa rede social com um escritor vivo de que gostes, as consequências são inusitadas e imprevistas. No último ano li o Mário de Carvalho escrever no seu mural sobre o valor da pátria acima de outros ou como valor em si, li o escritor saudar os valores da civilização ocidental sobre os acontecimentos do Charlie Hebdou, noutro momento a dar vivas à civilização contra não-sei-que-barbárie que habitaria não-sei-em-que-lugar fora dela. A genealogia seria Atenas, Roma, o império de Carlos Magno, o império Austro-Húngaro, a Europa das Luzes, a Revolução Francesa e a as democracias do pós-guerra? Qualquer coisa assim porque essa civilização é a Europa. Esta semana o escritor convida as mulheres (citanto correctamente convida as "senhoras") a apreciarem os atributos físicos dos candidatos masculinos às eleições legislativas em vez de encherem a boca com o "machismo" de algumas intervenções na campanha que versaram as qualidades físicas de candidatas femininas. O círculo completa-se nesta relação estreita entre nação e machismo. Como bem sublinharam algumas camaradas curdas, a existência e a forma do estado-nação está imbricada nas relações de poder entre dominado e dominador, e nestas a desigualdade entre homem e mulher é matricial e necessária. A barbárie está em todo o lado, felizmente.