quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Hoje é dia 30 de Outubro… Dia de proibir clube de mulheres.


Logo após a revolução francesa (1789), dia 30 de Outubro de 1793 em França, a Convention Montagnard decide proibir as sociedades populares de mulheres... porque elas podem fazer política, porque elas podem refletir e ser explosivas juntas, porque elas podem nomear os jardins de todas as esquinas: “pichas murchas”. 

sábado, 25 de outubro de 2014

É feminismo, é esquerda, é feminismo de esquerda!

Mas num outro site aqui perto estão disponíveis documentos para o próximo congresso do BE-
No relatório da Mesa Nacional sobre o seu mandato entre 2012 e 2014 diz assim:

7.4 Grupo de  Reflexão e Intervenção Feminista do Norte
Constituíram-se como Grupo de Trabalho um conjunto de ativistas feministas do Bloco de Braga, Porto e Viseu. Em plenário feminista, realizado no Porto a 28 de junho de 2014, foi decidido construir um plano de trabalho feminista em articulação com os vários distritos envolvidos. Desde logo um encontro em Braga com o tema “O conflito à volta da violência de género e da educação social na escola”, que teve lugar a 29 de setembro e que reuniu cerca de 30 pessoas interessadas no debate. A próxima realização será um plenário feminista nacional que está a ser apontado para Viseu. Entretanto, o GRIF  Norte está a poiar a intervenção política das coordenadoras distritais nesta área.
7.5 Grupo de intervenção feminista de Lisboa e Setúbal 
Dando seguimento às ideias aprovadas (...) Este grupo, que ainda só teve 2 reuniões, promoveu outras iniciativas - um mural sobre violência de género; uma sessão de discussão livre sobre género. Tendo identificado que a palavra feminismo carrega, para muita gente, um estigma negativo, e considerando ser nosso papel fazer alguma pedagogia social neste sentido, estamos a preparar uma campanha de stencil nas cidades. Está ainda no nosso horizonte próximo a realização  de um encontro feminista do Bloco, iniciativa há muito sentida como necessária.
Aqui




quinta-feira, 23 de outubro de 2014

"Volta à terra"




Publicitar um filme de um amigo dizendo que este é um dos melhores documentários sobre a ruralidade que vi nos últimos anos não é muito religioso. No entanto, o filme “Volta à terra”, que faz parte da competição oficial de longas-metragens portuguesas noDocLisboa 2014, é um verdadeiro elogio à imagem no cinema e um elogio à ruralidade. Sem deslizar numa idealização da vida rural, “Volta à terra” surpreende-nos pela sensibilidade imagética dos elementos da natureza e pelo respeito das personagens. Uma das intrigas do filme é feita em torno da desertificação das aldeias do interior de Portugal e nomeadamente da “escassez” de mulheres que “fiquem” as quatro estações do ano na aldeia. Não há julgamento sobre o facto, constatam-se apenas as consequências. Bonito, muito bonito.  

Pessoas com sujeitos (não, este não é um post sobre subjectivação)



 
Kollontai sentada ao lado de um senhor calvo.


Simone e um sujeito numa esplanada de Paris.



















Angela Davis a discutir ideias com uma pessoa.

















Judith Butler à conversa com um fulano.

















Fulano e sicrano esperam a chegada de Chantal Mouffe para iniciarem uma conferência.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

29 minutos e 31 segundos imprescindíveis

http://vimeo.com/107639261

Do Galo Gallardón ao Patto Choco

"Em artigo no Público, «Pelo direito a nascer», o Juiz Pedro Vaz Patto afirma que, «na sequência da vitória do "sim" no referendo, o aborto por opção da mulher até às dez semanas de gestação foi não apenas despenalizado (como decorria claramente da pergunta), mas também legalizado, isto é, passou a ser realizado com colaboração directa ou indirecta do Estado, em estabelecimentos de saúde públicos ou legalmente autorizados». E considera, por isso, ser «difícil afirmar que, contra o que propugnavam muitos partidários do "sim" no referendo de 2007, o aborto não é fomentado, promovido e incentivado pelo Estado».

Sem rodriguinhos de linguagem, o que Vaz Patto está a dizer é que, desde a vitória do "Sim" no Referendo sobre a descriminalização da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), o aborto passou a ser «fomentado, promovido e incentivado pelo Estado», apontando, logo de seguida, «as consequências deste regime»: para Vaz Patto, «aproximadamente uma em cada cinco gravidezes termina em aborto voluntário, sendo que um quarto destes corresponde a repetições». E mesmo reconhecendo, a custo, uma evidência que o próprio não nega nem poderia negar (o facto de «o número absoluto [de abortos "por opção da mulher" ter] descido ligeiramente»), procede ao remate final do seu argumento: «a proporção entre abortos e nascimentos (cujo número absoluto ainda desce mais) vai subindo de ano para ano».
"o número de interrupções voluntárias de gravidez por opção da mulher passou aproximadamente de 19.500 em 2010 para cerca de 17.400 em 2013 (registando portanto uma redução na ordem dos 11%, que não pode ser qualificada - como faz Vaz Patto - de «ligeira descida»)

um pingo de escrúpulos, não há Dr. Vaz Patto? 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O corpo de mulher com mais de 50 anos está uma pechincha, mas olhem que o da jovem também não está nada caro! E alguns de homens também marcham a preço de saldo.

 
Alguns acórdãos sobre indemnizações por danos não-patrimoniais em 2012 que referem a vida sexual em maravilhosa retórica de articulação com idade, género e potencialidade de devir, a despropósito do disparate deste outro.
 
Homem com 17 anos: «Considerando que o Autor esteve internado 42 dias, foi sujeito a quatro intervenções cirúrgicas, apresenta variadíssimas sequelas, ficou com a marcha claudicante, devido ao encurtamento do membro inferior, não consegue correr, saltar, andar de bicicleta, dançar, tem dificuldade em descer escadas, ficou com a perna desfigurada, não vai à praia ou à piscina por sentir vergonha, vive amargurado e desiludido, sente dores intensas, tem dificuldades em relacionar-se com raparigas da sua idade, sendo ele um jovem (...)» - 50.000,00 €
 
Homem com 30 anos: «Não se mostra exagerada a indemnização (...) atribuída, a título de danos patrimoniais, ao lesado de um acidente de viação, ocorrido sem culpa sua e de que lhe advieram (...) a incontinência total e a impotência, que levou a mulher a abandoná-lo» - 100.000,00 €
 
Homem com 47 anos: «O circunstancialismo apurado referente às sobreditas lesões sofridas pelo Autor - o qual não mais voltará a ter uma actividade sexual normal, com a consequente perda do prazer que esse relacionamento lhe proporcionaria e efeito procriador -, ao medo e perturbação que o Autor teve aquando do acidente e às dores e ao sofrimento que depois deste suportou e ainda sente ao pegar num objecto pesado e ao caminhar, indicia a existência de danos não patrimoniais de acentuada gravidade (...)» - 60.000,00 €
 
Homem a 8 anos da reforma: «(...) sofrimento físico-psíquico decorrente de fratura da tíbia e do perónio com amputação dos topos, de dores intensas nos ossos, de várias intervenções cirúrgicas e tratamentos, de hospitalização durante mais de um ano, de cicatrizes visíveis e extensas, de atrofia de grupos musculares, de necessidade de locomoção em cadeira de rodas e com canadianas, do encurtamento da perna, da perda de segmentos, da rigidez no pé, da imobilidade das articulações, da lesão neurológica do ciático (...), da depressão e angústia e da alteração do padrão sexual» - 60.000,00 €
 
Mulher, sem menção à idade: «Ponderada a factualidade que vem provada, designadamente, os ferimentos sofridos, a incapacidade de que ficou a padecer, o quantum doloris, as operações sofridas, o facto de continuar a ter dores, dificuldades em dormir, ter-se tornado pessoa triste e dependente de terceiras e as dificuldades sexuais, caracterizadas por uma actividade sexual quase inexistente, consideram-se adequados os montantes de 15.000,00 € e 20.000,00 € arbitrados, respectivamente, a título de danos não patrimoniais e disfunção sexual» - 35.000,00 €
 
Homem, 59 anos: «Sofreu uma mudança radical na sua vida social, familiar e pessoal, já que se acha impotente sexualmente e incontinente, jamais podendo fazer a vida que até então fazia, e é hoje uma pessoa cujo modo de vida, física e psicologicamente é penoso, sofrendo consequências irreversíveis, não sendo ousado afirmar que a sua autoestima sofreu um abalo fortíssimo» - 224.459,05 €
 
Mulher, 21 anos: «(...) pessoa dinâmica e trabalhadora (...) tendo vindo a ficar com paralisia de membro superior homolateral - teve de suportar várias intervenções cirúrgicas dolorosas e de recuperação, que se estenderam ao longo de mais de dois anos e meio, fica com prejuízo sexual (evitando convívio com colegas do sexo oposto)» - 35.000,00 €
 
 
Bom, há também este, que não consigo perceber se é consideração de teor sexual ou não.
Homem, 53 anos: «(...) danos não patrimoniais ao lesado que tinha prazer na poda de videiras, tratamento na vindima, no do gado e das árvores, realizados nas horas vagas, sente sensação de angústia e de tristeza por ficar impossibilitado, ter medo de cair e não arriscar a deslocação sem ser acompanhado, esteve imobilizado na cama de hospital cerca de trinta dias, sofreu intensivamente com essa imobilidade e o afastamento da família, dos amigos e da casa, sofreu dores violentas e incómodos nas intervenções cirúrgicas e curativos frequentes e sucessivos, sente constante cansaço e sensação de mal-estar na perna defeituosa, continua a sentir dores nela, no joelho, no tornozelo, agravadas com a mudança de temperatura (...), não veste calções, não frequenta praias e não mostra as pernas em razão da grave deformidade (...)» - 32.430,00 €
 
Podem ler a colecção completa aqui e, se tiverem paciência, podem fazer as estatísticas que se impõem para concluir o que já sabemos sobre padrão de desvalorização do corpo da mulher.
 
 
 
 
 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

“feminists have ruined my life and I will have my revenge, for my sake and the sake of all the others they've wronged“


Alguém (adoro esta palavra por ser uma das poucas que, em português, é neutra) decidiu pulverizar Anita Sarkeesian (e ouvintes - olha, outra neutra!) a tiro, caso a sua conferência sobre Género e Vídeo-Jogos na Universidade de Utah não fosse cancelada.

Foi cancelada. Ainda temos Anita (e ouvintes) entre nós. E Youtube. E a colecção completa de Damsel in Distress com acesso livre. E ideias que não se pulverizam a tiro.

As ameaças que esta mulher recebe são a metáfora perfeita para a situação que expõe activamente: ou violam-na ou rebentam-lhe o corpo à bomba - em qualquer dos casos, sobre ela e o seu corpo alguém - o sujeito, que é o playable character do vídeo-jogo mas agora na vida real (as fronteiras são, aliás, ténues) - agirá.

«One way to think about Damsel’s characters is via what’s called the subject/object dichotomy. In the simplest terms, subjects act and objects are acted upon. The subject is the protagonist, one the story is centered on and the one doing most of the action. In video games this is almost always the main playable character and the one from whose perspective most of the story is seen. So the damsel trope typically makes men the “subject” of the narratives while relegating women to the “object”. This is a form of objectification because as objects, damsel’ed women are being acted upon, most often becoming or reduced to a prize to be won, a treasure to be found or a goal to be achieved...» ou para pulverizar aos pedacinhos pelos ares num auditório universitário.

domingo, 12 de outubro de 2014

A Casa de Ramallah pelos Artistas Unidos

Uma encenação limpa e modelar, uma interpretação excelente com momentos verdadeiramente surpreendentes na actriz mais nova, um texto miserável do italiano Antonio Tarantino. Autor de que os Artistas Unidos gostam e de que têm encenado vários textos nos últimos anos. Tem os ingredientes que parecem comuns às escolhas dramatúrgicas do grupo ou de Silva Melo, é contemporâneo e fala sobre guerra e miséria humana, ou a miséria humana e a sua guerra, não uma guerra contra a miséria mas uma guerra que vem de fora para dentro, nos atormenta e deixa incapazes, doentes (harold pinter/ tenesse williamns por exemplo). 



Não conheço outros textos do dramaturgo pintor italiano. Não sei se tem ou traz um programa mas o texto A Casa de Ramalhah é criminoso de tanta confusão e omissão que nos deixa face a uma situação histórica com mais de sessenta anos, que nunca deixou de se constituir como problema e ocupa o presente de forma atroz. O autor terá escrito a peça há perto de 10 anos, sem conhecer a história do que é conhecido como o conflito israelo-árabe de lá para cá. Em todo o caso, o que se passou nos últimos anos tinha já acontecido nos 50 anos para trás, facto que não altera em nada ou justifica o carácter repugnante do seu texto. E que me questiona sobre a oportunidade dos Artistas Unidas lhe terem pegado exactamente no meio dos longos dias deste verão em que o governo de Israel decidiu bombardear sem dó nem piedade a faixa de Gaza, matando perto de 3000 pessoas, eliminando famílias inteiras, destruindo milhares de casas, escolas, mesquitas, centrais eléctricas. Em gestos de uma brutalidade que ultrapassa os limites do que é suposto ser admissível em cenários de guerra, se acaso estivemos a falar de uma guerra. 
Que leu Jorge Silva Melo neste texto que eu não consigo? 
A história é a de um pai, uma mãe e uma filha, que viajam de comboio inter-regional pela Palestina fora, as estações de paragem não acabam nunca e a viagem é muito longa. Não percebemos se isso acontece porque são pobres e têm de apanhar o inter-regional (onde as casas de banho nunca têm uma porta que feche) ou se acontece porque Israel condiciona as deslocações de toda a população palestina, dificultando-as ou proibindo-as. Esta tríade familiar vai-se revelando, um homem que sonhou, perdeu os pais e a sua casa com um ataque insraelita, a mulher, mais cínica, perdeu os pais e a sua casa com um ataque israelita, a filha, a mais nova de cinco, os outros foram "entregues" à organização, activista dum grupo de resistência que não tem nome mas é apresentado como a organização. A Organização lê o Corão, acredita na vitória não porque ela é justa ou porque parece justo que as pessoas não sejam exiladas das suas casas e terras mas porque o seu deus é maior do que o dos outros. A Organização que viola a filha antes de a introduzir no seu círculo de acção. A Organização que levou os outros quatro filhos e não lhes disse mais nada sobre o seu paradeiro. A Organização que entrou na casa deles a meio da noite e portou-se pior que os da Mossad. Não revelo o resto da história e valeria a pena para provar pelo absurdo como tudo o que o autor descreve sobre a "organização" é do domínio do efabulatório, não corresponde a nenhuma investigação fundamentada e portanto serve de propaganda a quem se tem ocupado durante as últimas décadas a branquear e a desculpar os sucessivos crimes de Israel. Há várias organizações ou grupos de resistência na Palestina. 
O epílogo da peça, antes de fazer uma incursão pelo mais banal e cliché tour edipiano da filha que se sentiu abusada pelo olhar do pai quando um dia surpreendeu o seu corpo nu (não bastava já tudo ainda era preciso bater mais no velhinho - como se no momento de deixar a vida esses momentos fossem os iluminadores da nossa existência), é magnânimo: "deus não existe e a guerra é absurda, não há lados, estamos todos do mesmo lado, patati patatá." Não estamos todos do mesmo lado. Não se pode estar de outro lado que não o da Palestina e de todos os povos acossados e espoliados por Israel. Pode-se defender um só Estado como solução futura, com os dois povos dentro dele, em igualdade de circunstâncias. Para garantir os direitos dos que nos sessenta anos se juntaram e nasceram ali também do lado de Israel. Mas não se pode em caso algum rejeitar a verdade evidente de que há um povo que foi espoliado, obrigado a tornar-se refugiado nos países em redor (sem direitos políticos e económicos), foi executado, torturado, e que continua a sê-lo com a impotência das organizações internacionais, de que o nosso país faz parte, elas próprias servindo propósitos bem distintos dos da manutenção da paz. 
Um texto destes é criminoso na medida em que nos atira areia para os olhos, inventando situações sobre eventuais organizações de terroristas, relativizando os crimes de Israel nesta façanhas da criação de um terrorista, se é tudo tão mau mais vale apanhar o tomate na planície de Tamâ durante séculos, se os isrealitas até nos pagam melhor do que os árabes (elidindo a questão de que a planície foi tomada roubada aos árabes palestinos). Que interessa se para a jovem deus existe ou não se ela está a lutar pela libertação do seu país e pela dignidade da sua família? Mais uma vez, a atirar-nos areia para os olhos fazendo-nos crer que se trata de uma questão religiosa. Um texto que nos atira areia para os olhos é um texto criminoso porque alimenta e compactua com as mentiras ditas e escritas por Israel e pelos EUA. Não compreendo porque Jorge Silva Melo resolveu pegar nele e levá-lo à cena. Não compreendo como estes três bons actores decidiram dar-lhe o seu corpo e energia. 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Quando o pós-modernismo aparece para estragar a festa da malta, pá!

 
 
'Tá a malta, pá, a ler alegremente um artigo que até parece catita, pá, com um mapa eurocêntrico igualmente catita, pá (nada como um mapinha eurocêntrico para apresentar gráfica e telegraficamente a alteridade), com design de qualidade e signos exóticos para exemplificar sítios que estão lá onde eles estão, pá, quando aparece o pós-modernismo e diz (em estrangeiro): «The bisexuality that is said to be "outside" the Symbolic and that serves as the locus of subversion is, in fact, a construction within the terms of that constitutive discourse, the construction of an "outside" that is nevertheless fully "inside" (...). The theory which presumes bisexuality or homosexuality as the "before" to culture and then locates that "priority" as the source of a prediscursive subversion, effectively forbids from within the terms of the culture the very subversion that it ambivalently defends and defends against.»
 
Foda-se, pá, nunca mais me convidem para festas nas quais esteja presente o pós-modernismo (a não ser que seja um funeral)!
 

Irresolutas certezas



As certezas num “que há-de ser de nós” dissipam-se neste sentimento tumultuoso causado pelas ausências dos corpos. Assim, pensar nesse fumo de cigarro, abusivamente fumado, como único refúgio denso para suportar o ar irrespirável dessas ausências, fustiga em seguida cada presença fugidia. É verdade, sim, aqueles fragmentos de memória tornam-se partículas de desejo e de sonho desse amanhã, que chegará, digamos, já depois do próximo pôr-do-sol. E no fundo do peito apertado sabemos o quão longínquo é esse amanhã, sem abandonar o combate de ontem que nos conduziu à aventura por essas ruas estreitas.     

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Viva o povo livre do Curdistão! Viva o Pkk

Kurdish Female Fighters and Kobanê Style Revolution

(...)
The Middle East, North Africa and their female populations in particular have been represented, portrayed and stereotyped in different ways, at different times and in different contexts. Take a look at the media coverage of the recent uprisings in the Middle East and North Africa region. News of the sexual harassment of women in the "Arab uprising", brutal attacks, imprisonments and virginity tests of female protestors dominated the screens. Yet women played a significant role in these events. For them, the uprising was part of a long history of resistance to suppression and a lack of freedom in their countries. The fact is that women were fighting and have proved their existence despite the counter revolutionary and anti-women treatment that they were receiving.
Today this portrayal is reversed. We now see photos, video footage, reports, documentaries and writing about the Kurdish female freedom fighters in Kurdistan. Kobanê a predominantly Kurdish city in Rojava (Syrian Kurdistan) on the Syrian-Turkish border is dominating our thoughts, our understanding and perception of the role of women in society and revolution. (...) 

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Para começar e terminar logo de seguida: o corpo dos outros não vos pertence

"Vemos os mais desfavorecidos, os mais excluídos, investirem com paixão o sistema que os oprime, e onde encontram sempre um interesse, visto que é aí que o procuram e avaliam. O interesse vem a seguir. A anti-produção espalha-se pelo sistema: amar-se-à a anti-produção por si mesma e o modo como o desejo se reprime a si próprio no grande conjunto capitalista. Reprimir o desejo, não só o dos outros, mas também o nosso, ser o chui dos outros e de nós mesmos -é isto que dá tesão, e isto não é ideologia: é economia.


O capitalismo recolhe e possui o poder dos fins e dos interesses (o poder) mas tem um amor desinteressado pelo poder absurdo e não possuído da máquina. Com certeza que não é para ele nem para os seus filhos que o capitalista trabalha, mas para a imortalidade do sistema. Uma violência sem sentido, alegria, pura alegria de se sentir uma peça da máquina, atravessada por fluxos, cortado pelas esquizes. Põe-se assim na posição em que se é atravessado, cortado, enrabado pelo socius, à procura do lugar onde, de acordo com os objectivos e com os interesses que nos são impostos, se sente passar algo que não tem interesse nem objectivo. Uma espécie de arte pela arte na líbido, um certo gosto pelo trabalho bem feito, cada um no seu devido lugar, o banqueiro, o chui, o soldado, o teconocrata, o burocrata, e porque não o operário,  o sindicalista...O desejo fica pasmado".

O Anti-Édipo - Capitalismo e Esquizofrenia, Gilles Deleuze e Félix Guattari, Assírio e Alvim, 1995 (1966), p.363.

domingo, 5 de outubro de 2014

Nascer é uma Utopia

O futuro é uma utopia. Algo que não tendo realidade no presente se pode constituir. Como a vida de um ser humano, não tendo realidade pode constituir-se como utopia, desejada por futuros progenitores, ou na forma colectiva de futuro comum da espécie. Em termos demográficos esse futuro de gente não se encontra ameaçado, bem pelo contrário, a população humana da Terra não tem parado de crescer. Por outro lado nas célebres Memórias de um Zigoto podemos ler: "quando descobrimos que lá fora havia gente a acender velas para que vissemos a luz do dia e que essas pessoas eram o César das Nevez, dirigentes do PNR, skin heads nazis, e católicos ultra-conservadores, começaram os problemas. Era necessário quebrar o silêncio, lá por não existirmos, nem juridicamente nem de outra forma socialmente reconhecida, não quer dizer que nos prestemos a tudo. Nascer nestes termos tornou-se uma condenação".

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Tira o rosário do meu ovário

Há um ano atrás, depois de ter ido assistir às comemorações oficiais do Cinco de Outubro no Largo do Município onde o o hino nacional e o hastear da bandeira foram submergidos pelos gritos DEMISSÃO DEMISSÃO DeMISSÃO dos que se tinham ali juntado, cruzei-me na avenida da liberdade com um grupo estranho. Pessoas vestidas de branco, algumas com balões, cantavam o Alecrim Alecrim Dourado que nasce no Monte sem Semeado. Algumas vinham com bebés ao colo e crianças pela mão. Que seria aquilo? Tentei perceber melhor mas o tom esganiçado de alguém ao megafone não deixava descortinar o teor do encontro. Eram muitas e muitos, e lá fomos entendendo porque vinham com rosários e alguns de bíblia na mão e empunhavam cartazes com fotografias de crianças. Esta gente não tinha vindo celebrar a república nem passear pela avenida num dia de sol. Vinha em família reinvicar os direitos daqueles que não nasceram a poderem fazê-lo. Portanto uma amálgama de gente inexistente que de repente se encontraria representada, à força, por este discurso. Representar os fantasmas é de génio, porque é um manancial muito dado à vastidão e ao silêncio. Estes amigos do incomensurável vão voltar a passear pelas ruas de Lisboa amanhã, eu gostava de ter tempo para os ir entrevistar e saber das suas propostas no que diz respeito ao muito comensurável problema das crianças institucionalizadas que não encontram famílias que os adoptem, ou que os consigam adoptar. Ao muito palpável problema do aumento da pobreza no país que tem levado ao aumento da entrega de crianças a instituições. Esta gente não diz que é contra a despenalização da IVG mas é a isso que vêm, tentar pôr os rosários nos nossos ovários. Rosários de hipocrisia à Jonet - alguém que não exerce uma profissão há duas décadas sem ser ocupar-se do banco alimentar vem dizer que há um negócio da pobreza em Portugal e que os pobres não querem trabalhar.